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Morganna Lôbo

6 horas da manhã e acordo com o som de buzina de kombi e com o barulho das vozes que gritam o meu nome. Ainda despertando, abro a janela, coço os olhos e recebo a luz clara do sol no meu rosto. Bagunçada, cansada, tentando entender o que está acontecendo, meus dois melhores amigos parecem empolgados e dizem para eu arrumar as malas que iremos viajar.  
Eu fico sem entender o que está acontecendo e prendo os meus cabelos e pergunto “o quê?”. Eles repetem “vai, rápido, faz uma mala e vamos viajar”. Como estou de férias, dou risadas sem graça, e arrumo uma mala tão rápido que eu nem sabia que era possível fazer isso com tanta velocidade.  
Visto minha calça preta, uma sandália, um cropped e desço as escadas para encontrá-los, com o meu cabelo preso. Eles perguntam pela minha bicicleta, e eu digo que está na garagem, eles entram com minhas chaves, a pegam e colocam dentro da kombi. Eu apenas deixo aquela situação acontecer e ainda sorrio sem jeito e vou abraçando a aleatoriedade daquela manhã ensolarada de segunda-feira.
No rádio, toca uma música de post-punk russo e eu a acho muito agradável e sinto vontade de dançar. “Para onde vamos?”, eu pergunto, “para a próxima cidade, e depois para a próxima e assim seguimos”, é toda informação que consigo. Eu só concordo e permito que o destino aconteça sem questionar tanto o que está acontecendo: afinal, estou com pessoas que confio e me coloco aberta aos acontecimentos da vida.  
A ida sem rumo foi divertida e conversamos sobre tantas aleatoriedades que não caberiam em um diário de bordo. Na primeira cidade, conhecemos pontos turísticos, tiramos fotos, experimentamos a culinária local, ficamos lá por três dias. Já na segunda cidade, aproveitamos as noites e dançamos como se não houvesse amanhã: nós também estávamos conectados demais com o presente para pensarmos no futuro.  
Na terceira cidade, eu tive dor de cabeça e tomei chás e bebidas naturais para aliviar a dor: amo essas coisas. Fiquei melhor e andamos de bicicleta. Tinha um rio lá e tomamos banho de roupa. A vida era intensa e presente e eu só precisava estar ali.  
Na quarta cidade, tomamos banho de mar durante a noite e conhecemos uma banda local que me deixou cantar desafinada no show deles. Talvez haja alguma filmagem desse momento, ou talvez não: nosso único objetivo era estar ali por inteiro e cumpríamos ele com perfeição.  
Na quinta cidade, caminhamos em um velório de uma pessoa que não conhecíamos e eu escrevi um texto sobre a finitude da vida. Nós choramos a perda daquela pessoa desconhecida que deve ter sido o amor de alguém e parecia ser tão querida naquela cidade.  
Após chorarmos as dores por aquela pessoa desconhecida (todas as emoções são válidas), decidimos que era a hora de voltar. E voltamos. Apenas parávamos no caminho para almoçar, jantar e tomar alguns banhos em rodoviárias. Eu sentia uma mistura de calmaria, cansaço e euforia.  
Eu estava viva. Como é bom estar viva.
Voltei para casa com os olhos cansados e alegres. Abracei e me despedi dos meus amigos como se aquele momento fosse único – pois ele era. Tomei um banho quente, depois deitei na cama e dormi pensando em quantos mais prazeres desconhecidos há pelo mundo. Quantas experiências estão só aguardando para serem vividas. A vida não precisa doer o tempo todo.  

Morganna Lôbo tem 23 anos, mora em Salvador, Bahia, Brasil e é professora de Artes e Teatro. É graduada em Licenciatura em Letras e estuda Licenciatura em Teatro. Escreve desde que se lembra. Publicou o livro “no caos da minha mente” e possui poemas em várias antologias do Brasil. Ganhou o prêmio “favela revela” e ficou em 3º lugar no prêmio “Literatodxs”." Palestra em escolas falando sobre Literatura e sua relevância. Além disso, trabalha com performance e teatro e acredita na importância das Artes para mudar o mundo e para conhecer a si mesma. "Freedom is Our Flag." Imagem fornecida pelo autor.
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UNDER THE MADNESS
A magazine for teen writers—by teen writers. Under the Madness brings together student editors from across New Hampshire under the mentorship of the state poet laureate to focus on the experiences of teens from around the world. Whether you live in Berlin, NH, or Berlin, Germany—whether you wake up every day in Africa, Asia, Australia, Europe, North or South America—we’re interested in reading you!